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Trabalho de Conclusão de Curso da FT leva informação aos catadores de materiais recicláveis de Limeira

A aluna do último ano do Curso de Engenharia Ambiental da FT, Livia Rodrigues Sabino, irá abordar os riscos associados à contaminação pelo vírus COVID-19 nas atividades de coleta de resíduos sólidos. A seguir, a aluna faz um relato do caminho que vem seguindo desde o começo do semestre, na definição do tema do TCC, e que culminou na semana passada, com uma bonita ação de extensão idealizada e realizada por ela por ela, e com apoio do CEPROSSOM (Centro de Promoção Social Municipal – Limeira).

 

“As ideias para o meu TCC foram desde poluição de ecossistemas marinhos por plásticos até saúde ambiental na óptica das Políticas Públicas, sendo todas elas muito aceitas e apoiadas pelo professor Rafael Freiria e todos os integrantes do Laboratório de Políticas Públicas Ambientais, o LAPPA, do qual faço parte. Foi um longo caminho de pesquisas até decidir que o tema do meu TCC seria na área de Resíduos Sólidos. Então, em uma conversa com a Profa Carmenlúcia a respeito da minha ideia inicial, ela se mostrou preocupada com os catadores de resíduos, pois desde o início da pandemia, muitas discussões surgiram em função dos riscos a que estes trabalhadores estão expostos. Alguns municípios não só no Brasil, paralisaram a coleta manual de recicláveis, enquanto outros passaram a divulgar informações para os coletores, no sentido de prevenir contaminações”.

“Como também sou estagiária da Secretaria de Meio Ambiente de Limeira, a ideia avançou para abordar esta questão junto aos catadores do município. Assim, eu, a Profa Carmenlúcia e o Prof Rafael Freiria decidimos que seria importante elaborar um material ilustrativo com recomendações de prevenção específicas a esses trabalhadores. Foram três semanas de muita pesquisa, dedicação, ligações e conversas até que consegui desenvolver, em parceria com a Prefeitura Municipal de Limeira, um folder informativo, que foi impresso na gráfica da prefeitura.

 

“Durante estas semanas de pesquisa, me sensibilizei muito com o tema, e com o apoio de minha mãe e uma amiga, decidi confeccionar máscaras para doar aos catadores, uma vez que eles não receberam EPIs para trabalhar durante este período de pandemia. Foram confeccionadas 110 máscaras pela Silmara, uma profissional extremamente bondosa que as confeccionou a baixo custo e doou algumas a mais. Tudo isso em apenas 4 dias. Minha mãe Gesilaine abraçou a causa e fez todo o alinhamento da confecção das máscaras, me ajudando também a montar kits contendo, em cada um, um folder, uma máscara e um pacotinho de doces, a fim de proporcionar aos catadores um conforto a mais nesse momento tão conturbado e doloroso”.

 

“Com os kits prontos, dei início às entregas. Elas foram divididas em quatro dias, de segunda-feira até quinta-feira (11/05 a 14/05). Os catadores são cadastrados no Programa Reciclar Solidário do CEPROSSOM (Centro de Promoção Social Municipal – Limeira) e, nesses dias, a autarquia fez entregas dos vouchers de cestas básicas que eles recebem mensalmente, e, então, aproveitei essa oportunidade para entregar os kits, uma vez que não estão acontecendo as reuniões regulares com os catadores a fim de evitar aglomerações. Ao todo, foram entregues por mim 100 kits  em diferentes locais do município, onde pude passar a cada um dos profissionais algumas orientações essenciais, como o risco aos quais eles estão expostos, como manusear corretamente as máscaras após o uso, como fazer a higienização das mãos, importância de não tocar o rosto após o manuseio dos resíduos. Em todos os dias da entrega, usei máscaras e álcool gel, ficando a uma distância segura dos trabalhadores enquanto conversávamos”.

 “A cada entrega dos kits, sentia no olhar de cada um deles o interesse em aprender sobre como se prevenir. São pessoas muito simples, mas com um brilho e esperança no olhar que eu nunca serei capaz de explicar em palavras. Conversei com muitos idosos que, por não possuírem recursos para se manter, estavam às ruas coletando resíduos para complementarem a sua renda. Sim, idosos de 65 até 75 anos se expondo para ter o que comer no final do mês. Conversei com pessoas que possuem problemas físicos severos mas que empurram seus carrinhos pesados todos os dias, pessoas que não sabem ler e nem escrever, pessoas que têm tão pouco recurso material mas tanta humanidade dentro do coração, que são capazes de dividir, com quem quer que seja, o pouco que tem”.

“Nesses dias, pude presenciar realidades com as quais nunca havia tido contato, e confesso que isso doeu a alma. Tive muitas reflexões que vieram acompanhadas de muitas lágrimas e arrependimento por nunca ter realizado ações em benefício daqueles que precisam, uma vez que sempre tive condições para isso. Os aprendizados que tive? Levarei comigo seja qual for o meu destino. Também pude perceber que todos nós alunos e professores, pesquisadores de universidade pública, devemos direcionar nossas pesquisas para beneficiar também essa parcela da população tão humilde e que não tem acesso à informação como nós temos. Devemos fazer pesquisa também para dar esperanças à toda população e nos lembrar que a publicação de artigos é apenas uma consequência do bem que já fizemos a todos aqueles que mais necessitam de nosso trabalho”.

“Nós pesquisadores representamos a esperança que pude ver no olhar de cada trabalhador. A gratidão que tenho por todos àqueles que me ajudaram a colocar em prática a extensão do meu TCC é infinita e eu desejo nunca me desvincular do caminho do bem”.

Livia Rodrigues Sabino